quinta-feira, 3 de abril de 2008

Calças e cinturas

Vinha o lince calmamente de regresso à lura quando se apercebeu de um indivíduo que caminhava à sua frente num evidente esforço: a cada três passos sensivelmente levava a mão ao cinto das calças e puxava-as para cima. Vim a observar este pitoresco (mas não raro) espectáculo durante algum tempo e, depois de passado o impulso inicial de ir lá dar um puxão para baixo às calças ou de lhas puxar para cima até aos sovacos, pus-me a pensar em como poderia ajudar a aliviar o sofrimento do infeliz das calças cadentes. Ocorreu-me dizer-lhe que se pusesse as calças na cintura e apertasse o cinto como deve ser, elas já não cairiam (sabe-se lá se o rapaz não desconhece esta realidade tão óbvia!). Ocorreu-me também sugerir-lhe que passasse a caminhar com as pernas todas abertas, como grande parte do pessoal que gosta de andar com as calças ao fundo do rabo (sempre evitaria que as calças descaíssem tanto). Mas depois reparei no grande D&G que a etiqueta ostentava e pensei: "se calhar as calças caem-lhe porque são malfeitas. Comprar roupa na candonga pode dar nisto, às vezes." Para não o embaraçar, acabei por não lhe dizer nada e ele lá foi à sua vidinha. Devagar claro, porque de 3 em 3 passos tinha de abrandar para puxar as calças. 
Realmente, para se andar na moda é muitas vezes preciso fazer figuras muito tristes... Será que é para ser sexy?

quarta-feira, 2 de abril de 2008

São servidos?

Que raio de coisa para se dizer quando se está à mesa com mais pessoas que também estão precisamente a comer... Há pequeninas coisas que estão de tal maneira enraizadas nas nossas maneiras de falar ou de agir que nem sequer reparamos nelas e no como, muitas vezes, são bem caricatas. A menos que haja um lince por perto... Pois é, hoje lembrei-me da do "és servido?" Era  uma reflexão que já cá andava há uns tempitos.

O lince teve uma colega nos tempos idos da faculdade que, cada vez que se sentava na cantina com o tabuleiro à frente, junto dos colegas, os presenteava com esta pérola. Um "bom apetite"? Não! Um "são servidos?", como se a comida que do prato dela fosse diferente ou quiçá melhor que as das restantes pessoas! Então, um grupo de pessoas que se encontra, digamos, numa cantina, todos a comer ao mesmo tempo a comida mais banal (quando não precisamente a mesma), tem alguma razão para começar a dizer uns aos outros se "são servidos"? Então não têm todos a sua refeição à frente para comer? Porque haveriam de "ser servidos" do prato dos outros? (somos selvagens ou quê? íamos agora por-nos a tirar comida dos pratos uns dos outros. Era o que faltava!)

Independentemente da vontade genuína (ou não) que quem diz "são servidos?" possa ter em partilhar a sua comida, esta parece-me definitivamente ser daquelas expressões a utilizar apenas em determinadas situações, tipo, estar o lince a tomar uma refeição e chegar alguém à lura. Faço entrar as visitas inesperadas e, obviamente, pergunto: "são servidos?". De resto,se todos estão servidos, para quê perguntar se o "são"?